Especialistas concordam em duas coisas quando se trata da transição para a energia limpa nos municípios brasileiros: será difícil chegar a um futuro de emissões líquidas zero e não chegar lá não é uma opção.

Os desafios para a transição energética nos municípios brasileiros são imensos. Embora tenha havido progressos encorajadores em áreas como a economia – com fontes renováveis muitas vezes fornecendo energia mais barata do que os combustíveis fósseis equivalentes – grandes desafios persistem em outras frentes: geopolítica, tecnológica, política e muito mais.

No entanto, o fracasso não é uma opção. Para evitar consequências catastróficas, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU diz que a comunidade mundial precisa atingir sua meta autoimposta de manter o aumento da temperatura global abaixo de 1,5 graus Celsius. Cruzar esse limiar corre o risco de desencadear impactos severos das mudanças climáticas, diz o IPCC, incluindo secas frequentes e severas, ondas de calor mortais, chuvas que induzem inundações e aumento do nível do mar.

Para atingir a meta, o IPCC diz que as emissões de gases de efeito estufa devem atingir o pico até 2025 e diminuir 43% até 2030, o que exigirá a redução rápida da energia movida a combustíveis fósseis, em favor de fontes de energia livres de carbono como eólica, solar, hidrelétrica e geotérmica. Em todos os municípios brasileiros, gestores públicos, pesquisadores e cidadãos estão colaborando com outros em todo o país para entender e abraçar os desafios e, espera-se, superá-los enquanto ainda há tempo.

Oportunidades e Desafios Geopolíticos

Com uma transição de infraestrutura em todo o país, você tem desafios do tamanho do Brasil – mas também oportunidades.

De fato, a transição para a energia verde pode ser a maior oportunidade que os municípios brasileiros terão para investimentos e crescimento econômico. Em um mundo que quer descarbonizar, muitas coisas serão necessárias para permitir que isso aconteça. Os formuladores de políticas devem se concentrar em como seus municípios podem fornecer essas tecnologias habilitadoras, em vez de apenas se concentrar em reduzir suas próprias emissões.

Isso abre oportunidades para municípios com grandes reservas solares, eólicas e hidrelétricas. O sucesso desses cenários, no entanto, dependerá de um ambiente geopolítico favorável, o que não é garantido.

A transição para a energia verde e a geopolítica estão intimamente conectadas, de uma forma em que cada uma influencia a outra. Mas a direção que o Brasil tomará – em direção a um futuro de energia limpa e segurança energética doméstica ou a um futuro de combustíveis fósseis – terá grandes implicações tanto para a crise climática quanto para a geopolítica.

Economia Complexa

Os economistas veem a transição energética como uma faca de dois gumes. Uma queda no crescimento econômico poderia reduzir a demanda por carvão, por exemplo. Ao mesmo tempo, uma desaceleração econômica poderia impactar as cadeias de suprimentos internacionais de tecnologia de energia limpa.

No entanto, a produção em massa de painéis solares combinada com subsídios governamentais para projetos solares já ajudou a impulsionar mudanças irreversíveis na economia da energia em todo o país. O custo relativo da energia solar e eólica em comparação com os combustíveis fósseis mudou drasticamente em meia década.

Mas mesmo as boas notícias sobre a geração de energia limpa são atenuadas por outra variável: o custo de atualização da rede elétrica brasileira para lidar com a nova capacidade elétrica, incluindo a geração de energia limpa e o armazenamento em baterias. As questões de custo também influenciam outras tecnologias apontadas como soluções potenciais para a crise climática, como a captura e armazenamento direto de carbono do ar (DACCS).

Desafios Políticos

A tarefa de atualizar as redes de energia também ilustra os desafios políticos que a transição para a energia limpa enfrenta. Embora possa levar de um a cinco anos para colocar um projeto de geração de energia solar ou eólica online, o licenciamento e a construção de nova infraestrutura de transmissão podem levar de cinco a 15 anos. Partes desses atrasos decorrem de processos de licenciamento que dão aos residentes e governos locais poder significativo para bloquear ou atrasar projetos.

Nos últimos anos, as tensões cresceram até mesmo entre ativistas climáticos e conservacionistas tradicionais, que geralmente se opõem a projetos de energia limpa propostos para áreas naturais. A reforma do licenciamento é necessária para equilibrar as preocupações ecológicas com a necessidade de construir projetos rapidamente.

As respostas à crise climática em nível nacional também estão em jogo. Com um Congresso polarizado, a adoção de políticas mais controversas, porém vitais, como impostos sobre combustíveis e carbono, torna-se quase impossível.

Mitigando os Efeitos

Os estudiosos do clima vivem em um mundo que alterna entre otimismo e pessimismo. Poucos especialistas ainda acham que o aquecimento global será mantido abaixo da meta principal de 1,5 graus Celsius. Graças aos avanços na energia limpa em todo o país, os especialistas dizem que cenários de aquecimento “verdadeiramente aterrorizantes”, como 5 graus, são cada vez mais improváveis.

No meio do caminho está uma era que os modeladores climáticos chamam de “excesso climático” – onde o aquecimento excede os níveis ideais por anos ou até décadas, mas é reduzido novamente à medida que os combustíveis fósseis são eliminados em favor de fontes de energia limpa. O que praticamente todos concordam é que, durante este período, devem ser tomadas medidas para mitigar o impacto das mudanças climáticas na humanidade.

Várias iniciativas estão em andamento nesta área, incluindo pesquisas que reúnem estudiosos de várias disciplinas. A adaptação é uma questão importante em regiões onde os especialistas em saúde dizem que eventos de calor extremo agora estão se aproximando dos limites da sobrevivência humana e onde a elevação do nível do mar ameaça tornar grandes áreas inabitáveis.

Enquanto isso, o trabalho também se concentra em ajudar as comunidades a navegar com sucesso na transição para a energia limpa, especialmente quando se trata de empregos, por meio de projetos que ajudam os líderes e cidadãos locais a entender os custos sociais e os benefícios da transição.

Avançando

Uma prioridade importante durante a era do excesso climático será ganhar tempo para os avanços tecnológicos e mudanças de infraestrutura necessários para que a transição para a energia limpa avance. Uma maneira de conseguir isso é reduzir as quantidades de metano na atmosfera, que é uma grande prioridade.

Embora o dióxido de carbono possa permanecer na atmosfera por um século ou mais, o metano se decompõe em 12 a 18 anos, portanto, os esforços para reduzi-lo podem ter um efeito dramático de curto prazo na desaceleração do aumento da temperatura.

Embora os compromissos sob o Acordo de Paris não sejam executáveis sob a lei internacional, eles criaram um caminho legal para os demandantes cidadãos – especialmente jovens ativistas climáticos – transformarem a crise climática em uma questão de direitos nos tribunais nacionais. Quando vencem, os ativistas podem “colocar alguns dentes” nas promessas climáticas de seu país e responsabilizar seus próprios governos.

Olhando para o futuro, há motivos para otimismo cauteloso. O que aconteceu até agora não colocou o Brasil na trajetória que muitos desejam. Não será possível limitar o aquecimento a 1,5 graus.

Mas se há algum “otimismo desenfreado”, não é devido a desenvolvimentos tecnológicos, geopolíticos ou econômicos, mas sim por observar a juventude de hoje infundir sua paixão na transição para a energia limpa. Os jovens estão muito mais engajados nesta questão. Agora, é a defesa do clima que está mobilizando essa geração.

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