Sua função seria identificar hábitos e estilos de vida não saudáveis dos pacientes e orientá-los a fazer melhores escolhas antes que os problemas de saúde surjam ou se agravem 

 Por Matheus Delbon

 

Dentro do sistema brasileiro de atenção básica temos uma figura interessante que desperta muitos questionamentos: o Agente Comunitário de Saúde. Embora ele tenha uma função essencial no desenho do SUS (Sistema Único de Saúde), a profissão não é regulamentada, não existe uma formação específica. O que vemos na prática são os municípios contratando estes profissionais para preencherem os requisitos do Programa Saúde da Família e receberem verbas federais. 

Com frequência ouço reclamações de prefeitos e secretários de saúde, dizendo que não entendem bem a necessidade ou utilidade destes profissionais. Também os profissionais questionam que não sabem quais são suas atribuições em geral e que prestam serviços de forma genérica. 

Uma iniciativa em Boston, da startup Lora Health, me chamou a atenção, embora o foco da empresa seja criar uma nova forma para planos de saúde reduzindo os custos. O modelo se baseia em “coaches de saúde não médicos” para identificar hábitos e estilos de vida não saudáveis dos pacientes e orientá-los a fazer melhores escolhas antes que os problemas de saúde surjam ou se agravem. O estudo foi publicado na Harvard Business Review de agosto de 2018, com o título “A disrupção chegou à saúde”. 

O interessante da proposta é que este profissional atuaria como planejador das atividades médicas e de saúde. Quando o paciente busca atendimento em sua rede, é atendido primeiro por este profissional para avaliar sua agenda da saúde, identificar seus problemas e definir os profissionais que o atenderão. Depois acompanha o paciente para dar continuidade no tratamento definindo metas e ações. 

Somente com o encaminhamento do coach é que os médicos serão acionados e se reportarão a ele para informar sobre os diagnósticos e tratamentos a serem implementados. Os médicos só serão acionados novamente caso os resultados esperados não sejam atingidos. 

A ideia é ir muito além do simples tratamento. É mudar hábitos, criar elos de confiança com os pacientes e coordenar as atividades de diversas especialidades, para evitar tratamentos sobrepostos e descontinuados, além de – não menos importante – ser mais barato que o sistema tradicional de especialidades desconexas. 

Embora esse caso seja dirigido à iniciativa privada, acredito que é similar ao desenho da atenção básica do SUS, pelo menos em sua ideia original, em que o Agente Comunitário de Saúde poderia fazer este elo e reduzir os custos do sistema público. 

Sei que ultimamente a palavra coach desperta questionamentos positivos e negativos, pois é evidente que estamos vivendo certo modismo da atividade, mas é possível tirar algo positivo. Senão vejamos, se por um lado há um grande número de pessoas buscando atuar como tal ou em formação coach, poderíamos aproveitar essa oportunidade de trabalho e transformar os Agentes Comunitários em Coaches de Saúde, criando sistemas, fluxos de trabalho, ensinando novas ferramentas de trabalho, monitorando e avaliando seu trabalho.   

As portas, portanto, estão abertas para todo este universo coach ir além do modelo tradicional. Os milhares de Agentes Comunitários de Saúde de todos os municípios do país estão abertos para que sua profissão seja melhor compreendida e utilizada. 

Fica aí uma dica para todos os leitores que estudam e trabalham com coach pensar em uma forma de transformar os Agentes Comunitários de Saúde. Já tenho o sinal verde de vários prefeitos e secretários com quem conversei sobre o tema. Eles me disseram que gostariam de programar algo semelhante em suas cidades. 

Estou à disposição para quem se animar a pensar mais sobre este tema. Vamos transformar os Agentes Comunitários de Saúde em Coaches de Saúde e melhorar nosso SUS? 

 

* Esta crônica que você está lendo faz parte do livro “CIDADES EFICIENTES: Crônicas da administração pública”, de autoria de Matheus Delbon.

O autor gentilmente autorizou a republicação deste texto, desde que a fonte seja devidamente citada e o conteúdo não seja alterado ou adaptado de qualquer forma.

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