OPINIÃO – Quando pensamos em Barcelona, ​​a maioria de nós pensa na arquitetura, tapas e clima de praia de Gaudí, mas a capital catalã também pode ser um exemplo digno de princípios enxutos aplicados à gestão da cidade.

Palavras: Boaz Tamir, Presidente, Israel Lean Enterprise

Você já pensou sobre isso? Os sinais de telhado de táxi podem ser apenas um dos exemplos mais comuns de gerenciamento visual na vida cotidiana. Quando a luz está acesa, você sabe que o táxi é alugado; quando está desligado, o veículo é levado.

Em uma viagem recente a Barcelona, ​​notei que os táxis da cidade levaram essa exibição visual muito simples para o próximo nível: quando o táxi é pego, a placa também traz os números 1, 2 ou 3 para revelar a tarifa do passageiro. placa está sendo carregada. Quando perguntei ao meu anfitrião sobre os números, ele respondeu: “Transparência e visibilidade são princípios básicos do comércio catalão. Um motorista de táxi deve seguir regras claras e rígidas – a área da corrida, sua duração, o número de passageiros e de malas determinam a tarifa. Nós, os barcelonianos, quase não damos valor a isso.”

Os locais podem ver a transparência como um dado, mas o fato de que a taxa é claramente exibida permite a aplicação de regras, para benefício tanto do provedor quanto do usuário.

Segundo meu anfitrião, as políticas públicas da Catalunha são baseadas em tradições que datam de centenas de anos. No século 13, por exemplo, o Consulado do Mar foi estabelecido para determinar as leis e padrões de comércio e transações econômicas entre nações e cidades do Mediterrâneo.

Este sistema de governação (estabelecido pelo público para o público, e baseado num quadro legal que definia os limites do campo de jogo mas não intervinha no seu conteúdo ou características) era responsável pelo bem público e pelo desenvolvimento urbano, económico e comercial de Barcelona.

Em uma cidade na qual até mesmo o mundialmente famoso clube de futebol Barça é propriedade e administrado por seus próprios torcedores – a propósito, você sabia que é o segundo clube de futebol mais valioso do mundo? – o legado de engajamento público e autogestão parece ter sobrevivido aos séculos e ainda influencia a forma como a cidade se governa .

De fato, a recém-eleita prefeita Ada Colau Ballano (a primeira mulher a ocupar o cargo) parece estar abrindo caminho para uma nova abordagem de liderança e governança. Como ativista social e uma das fundadoras do movimento de protesto Plataforma para Pessoas Afetadas por Hipotecas em 2009, Colau construiu sua visão de mundo na tradição catalã de iniciativa civil de baixo para cima. Ela baseou sua campanha para prefeito no slogan: “Temos mais poder do que fomos educados a acreditar”.

A administração municipal de Barcelona incentiva o envolvimento da sociedade civil e se esforça para criar a visão, as condições e a infraestrutura para o crescimento econômico e social. Colau Ballano quer que a inovação e o crescimento prosperem na sociedade e de acordo com uma estrutura específica e um conjunto de regras, aplicadas pela governança com transparência (por exemplo, a agenda do prefeito está disponível para todos).

A regulamentação local oferece um terreno fértil para o crescimento desse tipo de sistema. Em toda a Catalunha, por exemplo, a construção de shopping centers é desencorajada para impulsionar o desenvolvimento das economias locais, favorecendo as lojas familiares de bairro em detrimento dos interesses das grandes empresas. (Uma lição para outras cidades do mundo, talvez?)

Em zonas menos favorecidas, a autarquia incentiva a construção de centros culturais, teatros, museus, hotéis de 5 estrelas, infraestruturas de transportes e até incubadoras de startups subsidiadas (exemplos são a estação de comboios de alta velocidade de Sagrera ou a 22@ distrito de inovação de Barcelona). A comunidade pode participar do processo de tomada de decisão sobre o estabelecimento de instituições e instalações, como escolas públicas ou clínicas, e qualquer iniciativa que atenda a certas regras, padrões e benefícios ao público geralmente receberá a bênção e o apoio do município.

LEAN E A CIDADE

Em Barcelona, ​​a abordagem da gestão da cidade quase pode ser vista como um modelo intrigante para a aplicação dos princípios enxutos ao governo local (e também a uma corporação) . Como em uma organização sem hierarquia rígida, o líder da “Barcelona, ​​Inc”:

• define o propósito;
• articula os princípios de governança corporativa;
• facilita o discurso público para definir as regras do jogo (comércio e desenvolvimento urbano);
• garante que os processos sejam transparentes (a agenda do prefeito disponível para todos) e conhecidos por todos (as placas de táxi);
• e cria a infra-estrutura necessária para o empreendimento prosperar (para cultura, educação, saúde, comércio e indústria).

Isso estimula a expressão criativa do empreendedorismo, que busca a melhoria constante da infraestrutura e da qualidade de vida dos bairros da cidade.

Nesse modelo, o líder atua como arquiteto-projetista e a estrutura, a cultura e o estilo de gestão da organização permitem que a cidade e todos os seus stakeholders (funcionários, fornecedores e, principalmente, comunidade) promovam o espírito empreendedor, inovem, melhorar continuamente, enfrentar com eficácia os problemas e desafios e manter uma vantagem competitiva em um ambiente de negócios em rápida evolução.

Ao mesmo tempo, esse sistema ajuda a comunidade a criar instituições que beneficiam tanto a iniciativa privada quanto o público em geral, protegendo o frágil tecido urbano de fortes interesses comerciais (lembre-se das regras contra o desenvolvimento de shopping centers) e usando infraestrutura para criar maior igualdade em toda a cidade. Assim, as redes sociais e econômicas crescem e se fortalecem diante de uma estrutura de governança relativamente pequena e próxima da comunidade .

No entanto, mesmo em Barcelona (como em qualquer ambiente enxuto ou parecido com o enxuto), a tensão entre a mudança e os modelos mais tradicionais é palpável. Após o fracasso de algumas iniciativas importantes financiadas pelo governo e o abuso de recursos públicos por parte de alguns gestores, a administração do prefeito Colau está tentando adicionar alguns elementos típicos do sistema mais tradicional à estrutura atualmente em vigor. Isso, afirmam, é necessário para promover os valores e possibilitar a visão do governo municipal, além de garantir a fiscalização do contribuinte sobre como o dinheiro público é gasto. A maioria dos meus colegas em Barcelona acredita que esse debate levará a uma melhor aplicação das regras, mas está confiante de que a administração permanecerá nas mãos da comunidade.

Você pode transformar sua organização em um sistema sem hierarquia que opere de acordo com um conjunto transparente de regras, incentive a criatividade e o empreendedorismo das partes interessadas e seja capaz de se adaptar rapidamente às mudanças?

O AUTOR

Boaz Tamir é fundador e presidente da Israel Lean Enterprise. Ele tem uma vasta experiência em empreendedorismo, processos de recuperação, gerenciamento de empresas e pesquisa acadêmica, e contribuiu com seu conhecimento para o desenvolvimento de negócios e marketing de algumas das maiores e mais bem-sucedidas organizações de Israel. Tamir é fundador e sócio-gerente do Montefiore Partners Venture Capital Fund e também atuou como fundador e diretor do Romold Group, uma empresa multinacional especializada em tecnologias ambientais e no desenvolvimento e produção de produtos de infraestrutura para gestão de água e águas residuais e telecomunicações. Tamir é Ph.D. em Ciência Política e Gestão pelo MIT.

Artigo traduzido da página: https://planet-lean.com/lean-governance-tamir-barcelona/ para difusão do conhecimento de administração pública em língua portuguesa.