Por Lucas Zem

A contribuição do livro “Aprendendo a Enxergar” para a gestão de processos

Sempre que há um produto para um cliente, há um fluxo de valor.
O desafio e enxergá-lo.

Essa é a frase inicial do livro, que descreve a essência do que estamos prestes a ler. Anos antes da publicação do livro “Aprendendo a Enxergar”, James Womack e Daniel Jones descreveram etapas do processo de transformação Lean no Capítulo 11 do livro “Lean Thinking”, mas perceberam uma inconsistência: Durante as etapas 1 a 3, os gestores faziam um bom trabalho:

  • 1) Encontre um agente de mudança (que tal você);
  • 2)Encontre um “sensei” (um instrutor cuja curva de aprendizado você possa emprestar);
  • 3) Aproveite (ou crie) uma crise para motivar a ação em sua empresa.

Porém pulavam para a etapa 5

  • 5) Escolha algo importante e comece removendo rapidamente o desperdicio, para se
    surpreender com o quanto você pode realizar em um curto período de tempo.

Mas, segundo os autores, a etapa 4 é a mais importante de todas:

  • 4) Mapeie o fluxo completo de valor de todas as suas famílias de produtos.

Segundo os próprios autores: “Infelizmente, poucos leitores seguiram a nossa sugestão de conduzir essa etapa crítica com cuidado, antes de mergulhar na tarefa de eliminação dos desperdícios. Ao invés disso, em muitos casos, encontramos empresas atirando-se de cabeça em atividades massivas de eliminação de desperdício – ataques kaizen ou blitzes de melhoria continua. Esses exercícios bem intencionados melhoram uma pequena parte do fluxo de valor de cada produto e o valor flui mais suavemente através daquele canal especifico. Mas, a partir dai, o fluxo de valor chega logo em seguida a um pântano de estoques e desvios, nas fases seguintes do fluxo de valor. O resultado final e nenhuma redução de custo, nenhuma melhoria para o cliente na qualidade e no serviço. Nenhum beneficio para o fornecedor e uma sustentação limitada na medida em que as normas gerais do desperdício do fluxo completo de valor cercam a ilha de valor puro. E a frustração se acumula. Geralmente, o ataque kaizen com seus resultados desapontadores torna-se outro programa abandonado, logo a ser seguido por uma ofensiva do tipo “eliminação dos gargalos” (baseado na Teoria das Restrições) ou uma iniciativa “Seis Sigma” (focalizada nos problemas de qualidade mais visíveis de urna empresa). Mas isto produz o mesmo resultado: vitorias isoladas contra o desperdício, algumas delas bastante impressionantes, mas fracasso na melhoria do todo. A gestão de processos é fundamental para o sucesso de qualquer empresa. Para garantir que os processos estejam funcionando corretamente, é necessário mapeá-los e identificar possíveis gargalos e desperdícios.”

Neste artigo, vamos explorar algumas lições do livro “Aprendendo a enxergar” e como elas podem ser aplicadas na gestão de processos. Como visto, o livro “Aprendendo a enxergar” destaca a importância do mapeamento do fluxo de valor para identificar desperdícios e agregar valor ao produto final. Ao mapear os processos, é possível visualizar todo o caminho percorrido pelo produto ou serviço, desde a matéria-prima até a entrega ao cliente. Com essa visão ampla, é possível identificar gargalos e pontos que podem ser melhorados para aumentar a eficiência dos processos.

Etapas principais do mapeamento

Um dos principais conceitos apresentados no livro é o mapeamento do fluxo de valor (MFV). O MFV é uma ferramenta que permite visualizar todo o processo produtivo, desde o recebimento da matéria-prima até a entrega do produto final ao cliente. Com essa visão ampla, é possível identificar gargalos e desperdícios que afetam a eficiência dos processos.

O MFV consiste em três etapas principais: mapeamento do estado atual, definição do estado futuro e plano de implementação. No mapeamento do estado atual, são identificados todos os passos envolvidos no processo produtivo, desde a chegada da matéria-prima até a entrega do produto final. É importante que todas as etapas sejam registradas, incluindo o tempo gasto em cada uma delas e os recursos utilizados.

Na definição do estado futuro, é estabelecido um objetivo para o processo produtivo. Esse objetivo deve ser claro e mensurável, para que seja possível avaliar se foi alcançado ou não. Com base nesse objetivo, são identificadas as melhorias necessárias para atingi-lo.

Por fim, no plano de implementação, são definidas as ações necessárias para implementar as melhorias identificadas. É importante que essas ações sejam claras e detalhadas, com prazos definidos e responsáveis designados.

Ferramentas para a implementação do Estado Futuro

Uma importante ferramenta apresentada no livro é o fluxo contínuo. O fluxo contínuo consiste em produzir apenas o necessário para atender à demanda do cliente, sem estoques intermediários. Isso permite reduzir os custos de produção e aumentar a eficiência dos processos. Para implementar o fluxo contínuo, é necessário estabelecer um sistema puxado de produção. Esse sistema consiste em produzir apenas quando há uma demanda real do cliente. Dessa forma, é possível evitar a produção excessiva e reduzir os estoques intermediários.

O livro mostra também a importância das técnicas kanban, uma ferramenta que visa ajudar a nivelar o mix e o volume de produção. O kanban é um sistema de sinalização que indica quando é necessário produzir mais ou menos de um determinado produto, com base na demanda do cliente. No quadro de nivelamento da carga (ou “heijunka box”), há escaninhos com cartões kanban para cada intervalo pitch e uma fileira de escaninhos para o kanban de cada tipo de produto. Nesse sistema, o kanban indica não apenas a quantidade a ser produzida, mas também quanto tempo leva para produzir essa quantidade, com base no takt time. Além disso, o livro menciona que o sistema puxado de produção, que é fundamental para implementar o fluxo contínuo, depende do uso do kanban. O sistema puxado consiste em produzir apenas quando há uma demanda real do cliente, e isso é controlado pelo uso dos cartões kanban.

Além disso, é necessário introduzir o nivelamento da produção. O nivelamento consiste em produzir uma quantidade constante de produtos ao longo do tempo, independentemente da variação da demanda do cliente, sendo essa quantidade, de geralmente 1 kanban, puxada pela própria produção da empresa de tempos em tempos. Isso permite reduzir os picos e vales na produção, o que facilita a implementação do fluxo contínuo e reduz os custos de produção.

Para implementar o fluxo contínuo e o sistema puxado de produção, é necessário praticar kaizen. O kaizen consiste em buscar constantemente a melhoria dos processos, eliminando desperdícios, reduzindo os tamanhos dos lotes, encolhendo supermercados e estendendo o alcance do fluxo contínuo.

Contribuições para a gestão de Processos

Com base nas etapas, ferramentas, e destaque para o mapeamento de atividades observadas no livro “Aprendendo a Enxergar”, as lições aprendidas podem ajudar um gestor de projetos a implementar melhorias significativas em processos produtivos, reduzindo custos, aumentando a eficiência e melhorando a qualidade dos produtos ou serviços entregues ao cliente.

Dentre as lições, pode-se mencionar com destaque:

  • 1) Importância de mapear o estado atual do processo produtivo antes de implementar melhorias. Isso ajuda a identificar os gargalos e desperdícios que precisam ser eliminados.
  • 2) A necessidade de definir um estado futuro claro e alcançável para o processo produtivo, com base nas necessidades do cliente.
  • 3) A importância de envolver todos os funcionários no processo de melhoria contínua, desde a alta gerência até os operadores da linha de produção.
  • 4) A necessidade de implementar o fluxo contínuo e o sistema puxado de produção, junto a técnicas de kanban e balanceamento, para reduzir os estoques e melhorar a eficiência do processo.
  • 5) A importância do kaizen como uma prática contínua para buscar a melhoria dos processos, eliminando desperdícios e reduzindo custos.
  • 6) A necessidade de medir e monitorar continuamente os resultados das melhorias implementadas, para garantir que elas estejam gerando benefícios reais para o cliente e para a empresa.

Assim sendo, a leitura e compreensão dos fundamentos de mapeamento da produção explicados pelo livro “Aprendendo a Enxergar” se mostram imprescindíveis à Gestão de Processos.

Referências

ROTHER, M.; SHOOK, J. Aprendendo a enxergar : mapeando o fluxo de valor para agregar valor e eliminar o desperdício : manual de trabalho de uma ferramenta enxuta. São Paulo: Lean Institute Brasil, 2007.

Artigo elaborado por Lucas Daniel Zem Berbert, graduando de Engenharia de Produção pela EESC-USP, e pesquisador Lean Healthcare. Atualmente engajado em projetos de melhoria Lean Healthcare junto à Evoluta Administração.

Compartilhe este artigo!

 © Direitos Autorais

Contribua com a promoção de uma cultura de aprendizado responsável compartilhando livremente o conteúdo desta página, lembrando sempre de citar o link de origem e seus autores

Receba em seu e-mail nossa newsletter

Com as principais inovações e notícias da administração pública

Se gostou deste artigo veja outras publicações de nosso site