Pode parecer natural, mas não é. Na verdade, em outros países inexiste um dia fixo e, raramente, a periodicidade é mensal. Em geral, é seminal 

Por Matheus Delbon

 

Antes que você se assuste, não vou defender não ter pagamento, mas, sim, avaliar a necessidade de ter um dia específico no mês, que em geral é o quinto dia útil. 

Estamos no inicio do mês e muitos já estão se programando para o que fazer após o pagamento. Mas esta concentração gera alguns problemas em nossa economia. O dia de pagamento em setembro ocorreu no dia 6, ás vésperas do feriado, fato em que o comércio, em especial o de rua, se viu em um dilema: iriam perder o principal dia de vendas, o sábado logo após o pagamento. 

Neste sentido, cada cidade buscou uma estratégia para minimizar os prejuízos, lançando mão de alternativas para abrir no feriado. Mas estas tratativas dependem de negociações com os sindicatos patronais de trabalhadores, que nem sempre são fáceis. 

Ribeirão Preto conseguiu acordo para abrir o comércio de rua, já para os Shoppings a decisão foi facultativa. Araraquara não conseguiu, mesmo tendo o sindicato patronal ofertado pagamento em dobro pelas horas trabalhadas. Já os Shoppings funcionaram normalmente. Mas, em geral nenhuma cidade conseguiu uma solução plena para a questão. 

Não vou aqui entrar na discussão sobre os funcionários trabalharem ou não em feriados. O que vem à tona é outro problema: por que devemos concentrar o pagamento dos trabalhadores em um dia fixo do mês? Pode parecer natural, mas não é. Na verdade, em outros países, inexiste um dia fixo e, raramente, a periodicidade é mensal. Em geral, é semanal. 

O pagamento em períodos menores, como semanal, tem suas vantagens. Primeiro, podemos destacar que toda problemática vivida pelo comércio, como mencionei, não existiria, uma vez que as vendas se distribuiriam ao longo do mês. Não teríamos lojas lotadas no início e vazias no fim do mês, com vendedores ociosos. Para as empresas, um melhor fluxo de caixa e também melhorias para toda infraestrutura urbana, como vagas de estacionamento, segurança, trânsito e muitos outros itens. 

Quando trabalhei na Inglaterra, achei estranho receber semanalmente. De início, exigiu um pouco de planejamento para conciliar as despesas mensais que tinha, como aluguel e escola. Tive de aprender a fazer planejamento para todo mês, poupando um pouco toda semana para as grandes despesas. Educação financeira a força. Bem diferente do Brasil, onde eu recebia em um dia e simplesmente pagava todas as contas logo em seguida, fechando os pagamentos do mês. Mas esse formato leva o cidadão a praticamente passar todo resto do mês na pindaíba. 

E, passando por diversos empregos, percebia que cada setor da economia escolhia um dia da semana específico para pagar, pensando em beneficiar seu próprio mercado. Meu primeiro emprego fora em um bar, e recebia toda sexta feira. Já como vendedor no varejo, o pagamento saía às segundas. Explico: se você recebe na sexta estará mais propenso a gastar no fim de semana, em restaurantes, bares e diversões. Se for na segunda, provavelmente irá gastar no comércio no decorrer da semana. É cada setor defendendo o seu mercado. 

Na Inglaterra, cada segmento pode escolher livremente o seu dia de pagamento, pensando em seus interesses ou negociando com cada trabalhador. Na prática, o dia de pagamento acaba se tornando todos os dias da semana e os ciclos econômicos ficam mais curtos. Lá não se ouvia as expressões ….. “mês que vem eu compro ou te pago”….. mas, sim, “semana que vem fechamos o negócio, pois recebo na quarta!”. O que você prefere: 12 dias de pagamento no ano ou 52?   

 

* Esta crônica que você está lendo faz parte do livro “CIDADES EFICIENTES: Crônicas da administração pública”, de autoria de Matheus Delbon.

O autor gentilmente autorizou a republicação deste texto, desde que a fonte seja devidamente citada e o conteúdo não seja alterado ou adaptado de qualquer forma.

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