As lamentáveis queimadas da floresta amazônica reforçaram a necessidade de um olhar mais atento à proteção ambiental e ao mesmo tempo às questões administrativas das cidades, que estão sempre em busca de soluções inovadoras e com as quais podemos aprender 

Por Matheus Delbon

 

Recentemente fui surpreendido com a seguinte pergunta de minha filha de seis anos: “Papai por que está todo mundo falando daquele lugar que você trabalhava?” Depois complementou dizendo que até mesmo a professora da escola (do 1.º ano) estava propondo atividades sobre o entendimento da Amazônia e que na TV só se falava nisso. A pergunta me fez pensar e começamos a conversar. E percebi, logo de início, que a ingenuidade da criança mostrava muito de como pensamos a região amazônica aqui no Sudeste.   

Para minha filha, era um local qualquer do país, em que o pai trabalhava – na área da administração pública – e que tinha a vantagem de receber deliciosos bombons de cupuaçu no regresso. Deveria ter imagens também da viagem com a família, das idas a Manaus para um casamento, ou para brincar com a prima nas praias do Rio Negro. Para ela, era um lugar como outro qualquer, apenas uma parte do Brasil. Entretanto, após nossas últimas férias em Gramado e ao olhar no mapa, percebendo a distância entre Manaus, Gramado e São Paulo, comentou: “Como o Brasil é um país grande, papai!”   

A Amazônia sempre foi Brasil para minha filha, mas esta infelizmente não era a visão de colegas por aqui. Lembro-me de uma piada frequente que ouvia quando ao telefone dizia a algum cliente ou amigo que estava em Humaitá-AM e me respondiam rindo: “então, quando voltar para o Brasil, a gente conversa melhor …”   

Talvez a Amazônia não seja o Brasil que temos orgulho, do forte parque industrial, do agronegócio líder mundial, do turismo dos grandes hotéis. Neste sentido, é importante destacar que, além da imagem dos indígenas e ribeirinhos vivendo felizes, em estado natural e em harmonia com a natureza, há outros brasileiros lá que precisam de uma infraestrutura melhor.  

Não imagina a dificuldade dos caminhoneiros tendo de transportar alimentos e bens para a população, em meio à lama, porque estradas como a BR 319 que ligaria Manaus ao resto do país não recebe manutenção asfáltica. Com isso, há muitos problemas, como o isolamento das famílias e a alta dos preços dos alimentos. Esse é apenas um dos problemas que precisam ser resolvidos. 

Outra coisa a destacar é que, além do prefeito, essas cidades também têm vereadores, que por nossa Constituição podem legislar para assuntos de interesse local. Neste sentido, entendo que é importante que a grande mídia também perceba a importância dos poderes executivos e legislativos dessas regiões, que foram democraticamente eleitos.   

A Amazônia é parte de nossa federação, tendo a mesma liberdade e soberania que qualquer outra parte do território. É sempre bem-vinda a opinião das grandes potências mundiais, mas é preciso também ouvir os administradores públicos e a população local, uma vez que, além de preservar a floresta, a Amazônia precisa de escolas de qualidade, campanhas de vacinação, coleta e tratamento de esgotos e calçadas adequadas para cadeirantes, entre outras questões, necessárias a qualquer cidade brasileira.   

Não sei se consegui responder a minha filha, porque de repente uma região que para ela era somente mais uma do nosso imenso Brasil, agora parecia tão diferente das demais. Nestes dois anos que lá permaneci conheci uma Amazônia de pessoas, sonhos, dificuldades e principalmente uma Amazônia de cidades, que estão sempre em busca de soluções inovadoras e com as quais podemos aprender. 

 

* Esta crônica que você está lendo faz parte do livro “CIDADES EFICIENTES: Crônicas da administração pública”, de autoria de Matheus Delbon.

O autor gentilmente autorizou a republicação deste texto, desde que a fonte seja devidamente citada e o conteúdo não seja alterado ou adaptado de qualquer forma.

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